segunda-feira, 9 de março de 2009

Porque hoje é o Dia Internacional da Mulher…

O Dia Internacional da Mulher foi instituído no mesmo ano em que se implantou a República em Portugal – 1910. E porquê o 8 de Março? Porque foi neste dia que, em 1857, as nova-iorquinas empregadas em fábricas da indústria têxtil se manifestaram contra as más condições de trabalho e os salários reduzidos. Seguiram-se muitos outros protestos, como o de 1908, que juntou 15 mil mulheres em Nova Iorque, exigindo reduções de horário, melhores salários e direito ao voto.
Mas o Dia Internacional da Mulher só viria a ser estabelecido dois anos depois, na primeira conferência internacional sobre a mulher, em Copenhaga. No entanto, depois dos anos 20 do século passado, as comemorações deste dia esmoreceram e só foram revitalizadas com os movimentos feministas dos anos 60. Até que, em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu patrocinar o Dia Internacional da Mulher, para celebrar os feitos económicos, políticos e sociais que, com muito esforço, as mulheres alcançaram.

Há muitos anos que as mulheres lutam pela igualdade, mas o facto é que as diferenças entre sexos subsistem, embora cada vez mais ténues. Hoje, a edição on-line do Le Monde publicou alguns números que aqui vou citar, pois parece-me importante divulgar dados reais que mostram o quanto ainda estamos longe da paridade sexual. Mas não sou pessismista e penso que para lá caminhamos.


- 40 mil milhões de horas é o tempo que as mulheres da África Subsariana passam, ao longo de um ano, à procura de água. É o equivalente a um ano inteiro de trabalho de toda a população activa em França.

- 2/3 das horas de trabalho são asseguradas pelas mulheres em todo o Mundo. Mas, segundo a ONU, elas não recebem sequer um décimo dos rendimentos.

- 70% dos 130 milhões de crianças não-escolarizadas de todo o Mundo são meninas. Assim, não admira que 64% dos 867 milhões de adultos que não sabem ler sejam mulheres.

- 15% dos directores de investigação na União Europeia (UE) são mulheres. Nas áreas científicas e técnicas, esta taxa não ultrapassa os 9%.

- 21% é a diferença salarial média entre homens e mulheres em todo o Mundo. Na EU, esta diferença é de 17,4%.

- 8,8% dos membros dos conselhos de administração nas empresas do CAC 40 (as que têm melhor performance financeira em França) são mulheres.

- 60% é a percentagem de mulheres que integram o Governo finlandês. A Finlândia é o único país da União Europeia que tem mais mulheres do que homens no Governo. O país europeu com menos ministros do sexo feminino é a Hungria (6,25%) e a taxa média, nos 27 países da EU, é de 25,5%.

- 18,4% de mulheres ocupam cargos parlamentares em todo o Mundo. Na União Europeia, a taxa média dos 27 parlamentos nacionais é de 24%. A Suécia está em primeiro lugar (46,7%) e Malta em último (8,7%).

quinta-feira, 5 de março de 2009

Um jornal sem gralhas, um jardim sem flores

Errar é humano. Até Aníbal Cavaco Silva devia estar consciente disso quando proferiu (ao que se diz) a célebre frase «eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas». Hoje, o Público faz 19 anos e Luís Francisco, jornalista do diário português, achou por bem revelar os «disparates», como lhe chama, que o jornal tem publicado até aqui.

Seguem, então, alguns trechos do relato de Luís Francisco, adiantando gralhas de jornalistas que, antes de mais, são humanos:

«(…) um homem do sexo masculino (…)»

«(…) atentado suicida não provoca mortos (…)»

«Em 1994, o inédito aconteceu: no primeiro dia de uma maré negra nas Shetland, vários navios sobrevoaram o petroleiro Braer.»

«O novo provedor de Justiça, Nascimento Rodrigues, tinha "cinco filhos, duas raparigas e dois rapazes".»

«A 20 de Junho de 2007 escrevemos que a mulher de D. João III foi D. Catarina de Bragança. Estava errado e corrigimos no dia seguinte: a senhora, afinal, chamava-se D. Leonor de Áustria. Assunto encerrado? Não. O PÚBLICO ERROU estava errado e o verdadeiro nome da rainha era D. Catarina de Áustria.»

«Trocar "facturantes" por "fracturantes" ainda é o menos; o pior é quando tiramos a letra do meio à palavra "céu".»

«Trocámos nomes às pessoas e publicámos fotos que não são delas, enganámo-nos em datas, forjámos nacionalidades, baralhámos siglas. Só nunca conseguimos igualar a mítica tirada do icónico comentador desportivo Alves dos Santos, que um dia terá dito: "O quarteto defensivo da Alemanha é constituído por três jogadores: Beckenbauer e Schwarzenbeck."»

«A 3 de Dezembro de 2007, a manchete do PÚBLICO sobre o referendo na Venezuela era taxativa: "Venezuela diz 'sim' à proposta de Chávez, oposição apela à vigilância". O único problema é que o "não" ganhou o referendo.»

«(…) a 3 de Janeiro de 1995, a morte do antigo ditador somali Mohammed Siad Barre vinha ilustrada com uma foto do ex-primeiro-ministro francês Raymond Barre (…)»

«(…) recordemos o jornal de 26 de Junho de 2008, onde, pelo menos na edição Porto, três chamadas de primeira página não tinham texto, apenas a base (em latim) utilizada para contar caracteres.»

«(…) pusemos o veterano Miles Davis a actuar no Festival de Jazz de Londres mais de década e meia depois da sua morte.»

Da minha parte, e sem gafes, deixo apenas uma breve mensagem: Parabéns, Público!

Nota: A pesquisa destes «pequenos tesouros» foi feita por Alexandra Galvão e Leonor Gonçalves e o texto pode ser lido na íntegra aqui.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Greve contra os despedimentos colectivos da Controlinveste

Os trabalhadores do Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Jogo estão, hoje, em greve. O objectivo é mostrar indignação perante os despedimentos colectivos anunciados no início deste ano pela Controlinveste, a empresa que detém os três títulos.
À hora em que se escreve este texto, dos quatro jornais que integram o grupo, só o 24 Horas não tinha confirmado a sua adesão à greve. No entanto, segundo as declarações que os delegados sindicais dos outros três títulos deram à agência Lusa, ao final da tarde de ontem, espera-se uma adesão «francamente positiva».
As cartas de despedimento começaram a chegar às mãos dos trabalhadores na passada quarta-feira. Esta greve é um manifesto contra a falta de vontade em negociar da Controlinveste. «Se a administração tivesse dado o mais pequeno sinal que fosse, a greve teria sido imediatamente desconvocada», disse, à Lusa, Paulo Silva, jornalista e delegado sindical do Jornal de Notícias.
Além desta paralisação, os trabalhadores já pediram a intervenção do Presidente da Republica, primeiro-ministro, grupos parlamentares, Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Provedor da Justiça, ministérios do Trabalho, da Economia, dos Assuntos Parlamentares, e das comissões de Trabalho, de Economia e de Ética, Sociedade e Cultura.

Despedimentos em números
- 66 no Jornal de Notícias
- 17 no Jogo
- 14 no Diário de Notícias
- 12 no 24 Horas

Lá fora, o cenário não está melhor

No país vizinho, o sector da Comunicação Social também parece estar a ressentir-se com a tão anunciada crise. Ontem, o diário espanhol ABC apresentou um Expediente de Regulação de Emprego (terminologia utilizada em Espanha para designar os despedimentos colectivos). O resultado? Serão afectados 238 dos 456 funcionários – mais de metade.
O grupo proprietário deste jornal – o Vocento – justifica este Expediente com «questões de cariz económico, produtivo e organizativo». Em comunicado, o Comité de Empresa que representa os trabalhadores do ABC afirmou que «não há disposição para negociar nenhum despedimento e que se utilizarão todas as ferramentas para evitar esta agressão».
O mais estranho é que, no passado dia 24 de Fevereiro, o ABC publicou uma notícia que anunciava o facto de ser o único jornal espanhol a aumentar o nível de vendas, que subiram 14,2% em Janeiro. Perante este dado, a dúvida instala-se: será mesmo da crise? Ou este contexto estará apenas a servir de desculpa para aumentar os lucros, à custa de cortes nos recursos humanos e consequente sobrecarga nos que ficam?